domingo, 12 de dezembro de 2010

lobos e flores


            acordei pelas rugas dolorosas dos músculos.   os olhos estranhando a luminosidade excessiva. com suas devidas razões. ontem o tempo da noite se estendeu e os sentidos aguçaram os sabores. o cansaço e a dor a fracos pulmões, frutos da batalha entre risos, uivos, danças e feridas.
            contento-me em saber que na minha toca acordo solitário e não precisarei olhar para outro e nem um uivo iremos trocar até eu conseguir levantar e aceitar o Sol.
fiquei mais tempo deitado, apertando as pernas sobe os braços querendo apaziguar a memória e suas idéias confusas. mas, a mente mais ardil e impiedosa que a esperança exibe o filme dos lobos e flores na noite de ontem.
            entre flores e lobos, em seus ritos de pólen, caça, sangue e prazer, muitos riscados dos galhos sobre as peles e muitos pêlos espalhados no ar atrapalhando o vôo das borboletas. tantos sons indefiníveis se ruídos ou cânticos. falas, na sua maioria sem palavras, mas ricas em gestos, atitudes e vontades.
            entre um e outro a mensagem de que presa é mais afiada, qual pode cortar mais fundo e quem sabe melhor usá-la. entre pétalas de cores e desenhos diversos, overdose em odores, artimanhas, abismos e verdades pintadas.
entre eu e a noite, a hipertrofia dos sentidos ofuscando a racionalidade, deixando a fera se divertir e sofrer, entre eu e o dia as manchas sobre a pele e os recados farfalhando a lembrança. a luta é feita de dor e prazer.
            entre meu lobo e eu, pauso, aproveitando a solidão tento ver outro prado, outra possibilidade em que meus passos não me tragam tanta dúvida, euforia, dor, insegurança e prazer atados numa noite. sinto-me fácil sonhar num passeio de um lobo solitário em meio a floresta selvagem, sem ofender e sim carinhando a grama sobe as patas. mas a realidade as vezes se opõem ao ideal. assim como a mente à esperança.
            respirar tem seu preço. morder também.

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