domingo, 11 de dezembro de 2011

Dobre à esquerda após o Jazz

Na tarde alaranjada de Luanda eu caminhava cansado. Os meses de trabalho pesavam os ombros. Os pés apontando para o Recife faziam de mim um curupira em direção à rua 12 do bairro Projeto Nova Vida, residência desse segundo semestre de 2011. Era nova ela sim, a minha vida. Suspeitei desde a saída Rec-SP. Voo 1977. O mesmo número do ano do meu nascimento. Acredita nisso? Mas é a pura verdade. Renascimento em Angola.

Nessa tarde azulada de Luanda lembrei de uma conversa com o amigo Carlos Nigro, Caco. Disse-lhe que matei uns 06  Pablos até agora. E que iria matar mais uns 06 pelo menos até a reta final. De Recife para Luanda e voltando para Recife, um Pablo se foi. O legal é que eles parecem Smurfs. Vão uns e tem outros na fila logo atrás. Ainda bem. Mas, um dia os Smurfs acabam. "Pega leve Gargamel". Pensei na caminhada. E ainda bem que existe o Jazz. Para tocar e ouvir nessa horas.

Agora, na casa BBB de zilhões de moradores, esse smurf, sozinho, escuta Chet Baker com Gotan Project e toma um vinho. Vela o antigo, brinda o novo.

É meu amor. Um oceano nos separa. E isso não é uma metáfora.


Chet Baker e Gotan Project

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Corvo e o Girassol






Acima, um imenso azul profundo e infinito céu. Pedaços brancos em nuvens escolhem seus lugares. A manta branco-anil cobre uma família de titãs montanhas e suas pelugens verdes. A cama é uma terra a pulsar sanguínea  e vermelha. Extensa, fértil, infantil e cúmplice. Corre eufórica na saia das montanhas e as árvores riem.
Eu rasgo os brancos e suas calmas. Contrasto e defino um azul e preto. As folhas largam seus brilhos esmeraldas, rastros de um passado traçado. Voo rápido. Na música da  terra. Sou negro e raio para iluminar. Sou fértil e movimento. Sou ímpeto, sou rabiscos. Sou corvo.
Entre o todo um oásis. Amarelo. Ouro, incandescente, fervente e vivo. Um largo lago de gotas amarelas. Um destoante vale de seres louros. Um vale de girassóis.
É aqui. Foi sempre aqui. Passo da corrida para o passo a passo. Da caça dos filhos da terra para o deleite dos sinuosos e fêmeos caules e folhas. É aqui onde começa e onde termina. Só me cabe aceitar a fome, o desejo. Cair na incerteza amarela mergulhada na doçura verde sob a calma azul e seu interno vermelho voraz.
Resta-me libertar sombras sobre o clarão da flor. Podia continuar. Mas, é simples quando não há possibilidade.
Desço. Rasgo voraz o tecido ar. Solto rastros negros na tela. O amarelo cresce adiante. Vazo. Entro. Em meio ao rasante, lascas amarelas passam aos cantos dos olhos. Girassóis esquivam-se assustados. Gritam, sussurram, praguejam, fofocam. Não ligo. Sei o que quero.
É repente que paro no ar. Imediato. Vinha reto, paro e pairo. Asas em câmera lenta. Estou diante dele. Meu girassol. Resta-me libertar sombras sobre o clarão da flor e ver que cor sai.
Meu, pois dele são meus olhos. Meu, pois da sua luz cunho a imagem. Meu, pois da sua semente faço meu grão. Meu, pois da minha negritude faço uma vela. Meu, pois da sua ideia, teço um verbo. Meu, pois o amor é egoísta.
Olhamos um para cada. A volta, os outros giram e fecham em pétalas dobradas. O meu girassol é contrariante. Alarga. Espalha. Empurra. Arregaça o ar. Aliás, desdobra.
É aqui, em meio à mancha uniforme amarela de uma platéia tímida, um girassol de pétalas flores e frutas surge aberto para um corvo.
E o corvo paira beija-flor. Diante do seu girassol vivo achado entre estátuas amarelas escandalizadas.
São mil batidas de asas. Mil pétalas arrepiadas. Girassol a lagrimar poeira ouro. Corvo olhando para o sol em busca de amarelo menor. São mil silêncios. São  mil suspiros.
Eu, corvo, choro. Solto uma pena negra. Meu girassol sorri. Poleniza nosso impuro  ar.
Mas, o sol é vivo. E o vivo se move. E meu girassol segue a vida. Vira-se para ela. E vira-se de mim.
Palavras. Palavras. Palavras. Faltam quando o instante é maior em dor e buraco. Meu mínimo seria um guincho desafinado em plágio never more.
E o tempo nem dá tempo. Disfarçado de vento arranca o corvo para longe.
O quadro fica na tela. A paisagem volta em suas cores e seus donos de outrora. Resta uma mudança. Sobre a terra, protegida pela paz verde, entre os pés amarelos, dormindo sob o azul e respirando vermelha. Resta uma pena.
Resta uma pena negra manchada de pólen amarelo.
Agradecimento especial a Filipe Zau. Gigante angolano de gargalhadas largas.
Ilustração original de Davi Bezerra (muito obrigado primo)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

o homem falou

pode chegar que a festa vai é começar agora.

hoje era um dia qualquer em uma luanda qualquer.

entre a pérola branca do céu de fim de cacimbo (inverno) e as pontas da gema disfarçada de sol ele pensava.

refletia-se nos pensamentos soltos pela estrada à caminhar do trabalho. tão fácil tropeçar em tantas imagens. cienasta com demasiado questionamento tende a ser realizaor perdido. e agora sem a boêmia para lhe acompanhar (saiu para comprar uma esfiha e disse que só voltaria quando acabar o tratamento da gastrite) ele se pergunta em quê apoiar a inquietude, essa visitante frequente.

- e precisa de suporte? disse ela e abusada completou. - não dá para apenas deixar ser?
deitou-se então. pediu um espaço para uma ideia nem tão amiga assim e ralou-se ao asfalto, não beijou não seu nelson r., pois não eram tão íntimos assim. mas, compartilharam do mesmo espaço civilizadamente. pena que o tempo foi-se rarefeito, pois, ao trabalho iria regressar. e alí o trabalho não pode esperar. lembram as suas contas, que insistentes, sempre passam por debaixo da porta sem sequer serem convidadas.

e na jaula de vidro que muda de local mas tem os mesmos protocolos de arquipélagos, aqueles em que alguns colegas juntam imagens aos sons e finalizam nosso ganha pão, ele submergiu profundo em ideias vis. saudade das ideias viris.

daí que uma tal maria salvou o menino. maria a gritar em seu ouvido bem alto e percursivamente. pode chegar que festa vai começar agora maria. ou posso chamar de ritinha?

salvo pelo samba. salve o suor da música. sálvia de sons e sabores.

salve rita, salve maria, salve elis. salve eu.

brigadinho. só posso sorrir e caminhar.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

como um sol, ou como a lua

"entre raios e curvas, ela girava
entre lábias e larvas, ela clareava
entre taras e tardes, ela passeava.

no meio da mata, eu observava
nas noites da cidade, eu desejava
na solidão, eu admirava

entre atos e falhas, ela caminhava
entre farpas e folhas, ela libertava
entre a lua e o sol, ela brilhava.

na dança, eu parava
na ideia, eu esperava
entre a lua e o sol, eu sombreava".

a bela e o não-fera.


alguns anos atrás era recorrente a conversa com alguns amigos sobre se apaixonar ou desejar pessoas em momentos de irradiação, enquanto você está na introspecção...

eu e alguns colegas de "profissão" arrebentamos muito a cara. hehehehe. é muito ruim quando você coloca no outro, ou quer se alimentar da boa energia alheia e se esquece da própria fotossíntese.

a tendência é se tornar uma conexão e não uma fonte. daí dificilmente será objeto de desejo.

bom, é quando os astros se ancontram, mesmo sendo diferentes, o sol e a lua trabalham as luzes e cativam admiradores o tempo todo.

assim, como um sol ou como a lua, irradie. deseje e seja desejado.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

luanda cap. 2

após 20 dias na terra natal, estou de volta a luanda.

esse homem solteiro teria muito a contar, mas, às vezes falta tempo, ou coragem para expor tanto conflito dessa mente perturbada, imatura e solitária, mas, sincera. sendo assim, entre o muito e o pouco, vou de pedaços. pelo menos solto algo no caminho para lembrar como voltar.

e como o blog, segundo alguns amigos ferramaneta já velha na rede, tem o intuito da auto-exposição, vale a pena continuar o exercício e não ter medo do egocentrismo.

03 meses nas angolas e os 20 dias em recife (sendo 2 em sampa) mexeram com meu juízo. o alcool celebrativo das noites, manhãs e tardes, os abraços dos queridos, as palavras desafiadoras e os atos enfrentados agradáveis e os desfavoravéis.

nem deu tempo de entender, talvez entender não seja o verbo do momento e sim viver. então, o que me resta, ou que se apresenta são 3 novos meses "africanando". desafiando as ideias, a pele e o pensamento dessa minha cabecinha verde.

cap. 2.  luanda. que venha, pois estou de braços abertos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

perder

uma vez estava conversando na cama. não era amor, não era noite de namorados, mas era sincero e intenso. daí o espaço para um bom diálogo.

entre as verdades daquela noite uma revelação minha. nos últimos anos aprendi, dolorosamente, a vivenciar um verbo desagradável: perder.

ganhar  é quando o desejo é aplacado, saciado e alimentado. perder é doer a barriga, é pagar o dinheiro da ida, é esperar o próximo jogo.

na semana de pernambuco e à beira da porta de mais três meses em luanda minha mesa está farta. conquistas e derrotas. lado a lado. pratinhos cheios.

e eu não me iludo, tenho que comer um garfo de cada prato.

nesse exato momento, o paladar está amargo. garçom? o menu por favor.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

kuduro

quando vim pra luanda ouvi assim: - quero ver voltar dançando kuduro hein?


tentei desde o início. já cheguei assistindo alguns clipes e de imediato na primeira festinha de quintal, tradicional tipo de festa em casa adotado pelos migrantes de todos as bandeiras, já arrisquei uns passinhos.

sabe aquele gringo dançando maracatu bem no meio do carnaval? euuuuu. fui uma vez na boate e dancei feito louco, creeente que tava abalando no kuduro... não sei por que vi tantas risadas e comentários dos mangolês (nacionais angolanos). pois é... gringo tentando frevo, gringo tentando ser kudurista... pelo menos tentei e de peito aberto.

masn vale a intenção. o engraçado é que o kuduro é considerado a dança das crianças. rapaz, vc precisa ver a criançada dançando. liberdade é a palavra. existem os toques (passos) de músicas específicas, mas a dança é extremamente livre. seu corpo solto. beeeem, solto. mas o genial é ver os miúdos arrasando. meio jackson, meio street, meio afoxé... tá tudo junto e misturado.

já as mulheres... nooossa senhora. pernas para um lado, tronco para outro. ginga pura. é lindo vê-los dançando.

segue um link de um clipe BRUTAL de kuduro :) repare que tem um "toque" específico da dança do cambuá (para quem não sabe, cambuá é cachorro)


http://www.youtube.com/watch?v=OSNX9p7w1aA




segunda-feira, 1 de agosto de 2011

das dores e desapegos

aos poucos fui me despedindo desse pedaço. esse naco tão útil e frutífero. mas é assim, na vida tudo passa.

estava me despedindo desse blog. um adeus saboroso como foram os posts passados, como foram as ideias escritas e as não ditas.

mas me veio nova ideia. umsa sede desejosa de mais um pouco. e cá estou. de regresso.

afinal os cenários mudaram. o sol agora é gema ao entardecer. o céu é leitoso nevoeiro às manhãs e o vinho ganhou mais espaço que a cerveja na prateleira.

agora os contos são à distância dos melhores amigos. das habituais mulheres e a procura das novidades.

sou de angola. por certo tempo de certo. mais certo ainda é parafrasear uma amiga. sou do mundo.

e escrever sobre isso não foi fácil. daí o título. hoje são dois meses longe de casa. da casa minha cama a casa do sotaque nordestino orgulhoso de pernambuco.

não foi fácil. o primeiro mês foi de excitação pelo admirável mundo novo e angústia e desespero da saudade do mundo meu. cada tequinho.

principalmente dos amig@os, da família e do ar, dos costumes, das vias em mangues e das copas das árvores do espinheiro. ah, ponte da torre... ah hellcife antigo... serve-me um jazz no domingo em ébrias companhias...

dá-me uma bodega e um velho arrodeados de rostos das formas e estilos olindenses originais. dá-me um chamar que eu vou.

mas eis que surgem as candongas, vãns angolanas. eis que as zungueiras a vender frutas e legumes com suas bacias na cabeça e panos coloridos enrolados no corpo alentando o bebê pendurado nas costas.

surge o rio kwanza para preenher o vazio deixado pelo meu capibaribe. surgem novas gírias para substituir os segredos.

e assim vou viver e escrever os próximos dias. entre dores e desapegos. entre saudades e novidades.

Angola

sexta-feira, 22 de abril de 2011

dei-te o silêncio

lembrei-me de algo, finalmente, digno de retorno à escrita blogueira.

na verdade não se trata de um algo apenas, mas,  de algumas memoriedades.

em tempos de excessos turbinados por mídias sociais e suas imagéticas práticas destrutivas de retinas, em prol dos eletrônicos olhares, lembrei-me de silêncios.

silêncios fêmeos, como havia de ser nesse meu pequeno espaço. lembrei-me de saídas mute on. para isso, presuma, havia estados consolidados, ou situações em si, já que falaremos do fim (esse = saída).

vamos direto ao ponto, após tantas firulidades.

uma mulher de beijo doce, ideias luzes, personalidade frenesi, cujo toque minhas mãos viciaram alguns dias frequetaram meu cotidiano. tal qual, não será injusto a reclamação na sequência, pois, a falada, proporcionou o hábito e consequentemente incentivou a necessidade da repetição.

mas eis que algo erra. e não interessa discorrer sobre o erro e sim o após. e de uma lua para um sol não há mais ela. só um eu. 

o que antes era riso, reclamação, prazer ou raiva torna-se silêncio.









não ao telefone. não ao encontro, não às palavras, não há... e ai de mim se tentar entender. quanto mais peço o por quê, mais recebo sorrisos simplórios em forma de game over.

a partir dessa acima lembrei-me de outros silêncios que ganhei ao longo. e aponto minha revolta. finalizar, reiniciar, ou outro verbo, não reside nesses meu problema, mas sim na indiferença.

algumas pessoas apenas deletam. apagam delas as amizades, os amores, os encantos e/ou dissabores. eu discordo da porta na cara. sempre estive de ouvido para bocas falantes. mas, lembrei, com amargura mesmo, de eventos de pontes derrubadas, cordas cortadas e elevadores quebrados. recordei de histórias de esquecimentos e necessitantes de afogar o contato.

discordo. prefiro a briga, o amor, o respeito, a atração, a repulsa, a inimizade, a humanidade à indiferença.

para as indiferentes o recado: não se iludam,  pois guardo os contos. para as de vidas em convite e que me olham no olho o telefone e o homem é o mesmo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

salivas de eros 1

inicia a fase erótica.


viajei a trabalho. de um dia para outro duas cidades na ponta das asas. a noite do primeiro dia, o descanso, uns chopes e risadas à mesa. na manhã seguinte o trabalho. na noite do mesmo dia o retorno.

eis o palco: o avião.

normalmente duas horas de voo nada trazem de novo. mas o FK 1269 era diferente. a sorte, o acaso, o destino, qual deles me afortunou aquela noite prateada?

cortesias entre tripulantes e transeuntes: - boa noite. - boa.
e uma passarela quase vazia. as luzes suaves do corredor acalmavam o espírito trabalhador. com certeza dormiria o trajeto inteiro. e o melhor, ninguém nas cadeiras ao lado da minha poltrona à janela. quase sem vizinhos, sem crianças chorosas ou companheiros indigestos.

foi perto do horário da saída. pensei: "abriram as janelas da várzea de flores silvestres, ou então descobriram quais essências fazem do meu olfato o mestre dos sentidos e escravizante da serenidade e da razão".

ela sentou ao meu lado. não foi nem na poltrona livre do corredor. foi aqui, perto, próxima das minhas vastas ideias. cavalheiro como sou, assumi a discrição. o máximo possível, julguei.

serena e segura se posicionou. abriu a boca e suspirou soltando os ombros em sinal de relaxo. do sibilo entre lábios um novo perfume. oh mestres da literatura... como escrever ou descrever um sopro, popularmente chamado hálito, capaz de enuviar a solidão? não me atrevo a escrever sobre seus olhos, seus lábios, sua pele. melhor será propor: qual desenho, qual carne, qual seda, para ti leitor, encorporaria o ápice? traga sua musa, pois aquela lá não fotografei e não me atrevo a desenhar visão equivocada.

motores ligados, poltronas em 90º, cintos afivelados, luzes desligadas. adoro a decolagem. amo a pressão do deslocamento. o desafio delirante de toneladas saindo do chão. belo é voar.

os primeiros vinte minutos foram apenas de observações. minto, contemplações. foi então o vigésimo primeiro o rompante. sem traquejos, virou de lado e olhou fixamente para mim. "pausei". sério? - sim sério, diziam os mirantes ao meu lado. aceitei. por momentos, abandonei o inseguro e respondi de movimento bate e pronto. alcei minha mão a sua nuca e convidei. aceito. tão breve quanto ímpar, estávamos a encontros úmidos e quentes nos céus brasileiros.

apenas o início de tamanha audácia. difícil explicar de quem era a dianteira. melhor é entender que nessa dança não houve guia, mas sim aventureiros. na penumbra das poucas luzes sua mão agarrou minha nuca fortemente e eriçou meus cabelos na cobrança que dalí por diante nada seria negado.

tudo rápido demais. tudo muito demais. cada mordida parecia um pedaço a menos de medo. cada toque um pudor jogado pela janela. não demorou e minha mão descobriu pernas sem calcinha. não custou e eu estava com a calça perto dos joelhos.

o tempo caminhava lerdo ante as pulsações e respiros. em contraponto os sons permitidos eram baixos gemidos em nossos ouvidos em pé. então o imaginável, ela e sua saia viraram de costas. mãos seguras apontaram o caminho. e lá estávamos nós entre nós inteiramente livres e unidos até lá dentro. insano? incerto? com certeza.

uma fileira adiante notei outra mulher a-visitando-nos. preocupei. errei. segundos depois a mesma olhante respirava dentro do compasso. uma de suas mãos se ocupava. a vizinha apreciava o show. voyeurismo não sai de moda.

voltando-me a nós dois. agora mais rápido. mais íntimo. mais calor. eu podia jurar que todo o avião mudara de cor. o aroma suado do assento usado fora trocado pela brisa silvestre prórpia dela. nada me existia mais além daquele pequeno espaço. e foi além. pegou minha mão livre e segurou sobre sua boca pressionando  e impedindo os sons delatores. da minha parte mordi meus lábios jubilantes. acredito, até, que bebi meu sangue tamanha a força.

daí aquele sentimento, momento, tão conhecido e indecifrável. indefinível. apenas lembro que no auge, senti que um eram dois juntos. seria possível? sim. fomos os dois juntos simultâneamente.

entre atos desaceleramos, ainda alí atados. olhos fechados e deslocados. um abraço apertado e a mesma mão, outrora convidativa, empurrou-me de volta à janela.  a outra mão dela segurava a explosão entre pernas. olhou-me sorriu e cerrou os olhos em isolada plenitude. não nos tocamos mais.

e foi assim resto da viagem. em recife desci só. para ela minha cidade era escala.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

prévias

para bom entendedor de carnaval, as prévias estão entre o melhor da festa.

vamos confraternizar dicas do que há de mais mais e desfrutar desse mês que precede os quatro dias de insana felicidade.

pelamordedeus contribuam e postem o que sabe.

a ideia é divulgar as não tão óbvias como acho é pouco, treloso e etc. vamos falar sobre outras que são incríveis e que são frequentadas por quem ama o carnaval e não apenas a badalação de festas com hiperpopulação e programações duvidosas (75 reais para ver monobloco???). diga-se de passagem a prévia do quanta ladeira ano passado, acabou a cerveja e fecharam os quiosques sem explicação deixando o público com inúmeras fichinhas na mão... e se alguém chegar aqui para falar do ensaio do patusco tá expulso do blog.

bom. agora quero falar do que gostaria de frequentar esse ano. festa com pessoas de olhos fechados gritando os cânticos, suores descendo sob esse sol duzínferno, de velhinhos rasgando no frevo, de dores nas pernas nos dias seguintes.

1

ensaio da orquestra da pitombeira.
imagine uma orquestra com aproximadamente uns 20 metais. os caras tocando na maior empolgação e tudo dentro do espaço apertado e quente da pitomba em olinda. fui domingo passado. fechei os olhos e dancei. um senhor passou me deu um abraço e bateu no meu peito. outro a minha frente dava aula de frevo, um dos componentes da orquestra era um senhor tocando um oboé, acho. enquanto a turma olhava as partituras ele solava feito um sabiá delirante. simplesmente incrível.
todos os domingos a partir de 13h na sede da pitombeira na rua 27 de janeiro nas olandas.

2

nem sempre lili toca flauta
esse chega é difícil falar. bloco predileto da minha tia vânia. imagina um bando de músicos sentados numa mesa grande tocando frevos canções e outros mais. aliás uma vez tava lá e o cara do acordeão tocou uma música, o jovem ao lado dele acompanhou no violão e uma pá de gente não sabia qual era a música. aí acabou e eu gritei: lindo. amarcord! é... eles tocaram a trilha de nino rota do filme de fellini... digressões. adoro. e ainda tem umas mulheres em pé cantando as músicas. e onde? onde??? no mercado da boa vista. meu mercado predileto para tomar uma cerveja de dia.
agora a minha falha... não sei quando é a prévia :(  ajuda!!!!

3

já mais famosa, mas ainda assim interessante.
bloco dos barba (será que é esse o nome??) no poço da panela, no mesmo dia do bloco do talo (é esse nome também?). normalmente no sábado a tarde, no mesmo dia da sala da justiça.
o diferencial, além de ser no poço da panela, é que fica todo mundo na rua e passam uma pá de blocos, troças, maracatus e etc por lá. eu gosto :) e você ainda brigando por uma cerva gelada em seu ... deus como é o nome dele... ai jesus... lembro nos comentários.
eu ainda fico na casa do amigo tomás, que reúne a turma do grupo de percussão quebra baque, que eu fazia parte. tomo uma e mato a saudade dos amigos. eles ainda saem tocam nas ruas do poço no meio da tarde.

por enquanto é isso. vamos lá povo. ajudem a fazer meu carnaval melhor :)

sábado, 22 de janeiro de 2011

vento de batom

acordei sob um sopro de boca nova.
aos poucos fui abrindo os olhos ao sol.

no início de janeiro demos passos rumo ao encontro de dionísios, e essa semana abrimos o vinho e fomos ao palco. eu e mais quatro acompanhantes.

veio a lembrança, o nervosismo, a tensão, o prazer de tempos antigos, cumplicidades. voltando ao teatro... ideias novas brasadas pelas antigas.

e fui dormir, reencantado pela minha mais antiga e agora nova enamorada. uma arte perdida por mim e talvez a ponto de ser novamente reapropriada. ai! a minha teatro. na feminina, pois a desejo assim como as outras feminlidades que tanto me perturbam e estimulam.

rumos novos, cantos frescos, boca nova para degustar, morder, sangrar, molhar.

vento de batom
cheiro brisado de flor
sábado bom

notas de liberdade
a língua afiada
ondas de novidade

delícia, já chego
moro e morro no seu aconchego

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

indiferenciar ou dêerriar?

já aconteceu comigo e já deve ter acontecido com você.

havia uma história tempos atrás, em que hálitos eram flores, toques eram macios, olhares dançavam juntos. época com diálogos extensos, fogueiras acesas nas cavernas, nudez compartilhada, prato executivo para dois.

uma história a dois. e como toda história havia conflito. afinal, que é da ação sem conflito?

já não era mais a mesma rosa amarela. mas, tudo bem, não é assim? o mesmo perfume, a mesma cor? mas alguém não tem mais o amor. acontece. e agora? o que faremos, ou melhor o que fizemos?

o conflito pede movimento, pede atitude e em tempos diferentes eu ou ela cometemos um ato que hoje eu não apoio. o ato de não conflituar. o ato do silêncio, da ausência, de não atender ao telefone. ah, a indiferença. decisão de quê? não brigar? não discutir? melhor é calar?

melhor é sair pela porta dos fundos e deixar a chave embaixo?

mas há o outro lado. será que a ausência do diálogo, ou da dr, também não seria um "para bom entendedor meio silêncio basta?"

deixemos a história passada para trás, afinal são dias de carnaval. pode rolar um - você tem quase tudo dela...
e aí? como trataremos nossas rosas amarelas?

e você? dr ou indiferença? vai de qual?

domingo, 2 de janeiro de 2011

carinhar

solzão lá fora e o coração quente aqui dentro.

dia bonito, começo bonito. tava pensando em carinhar. carinhar é verbo, é ato, é autocontemplATO, é deixar um teco de si para o do lado.

diazão bonito. tava pensando em caminhAR. caminhAR é ver, é tocar, é respirar un tanto a mais que parado, é CAMAnoAR.

dia2 ainda com gosto de novoano. tava pensando em dOUvidar. dOUvidar é saborear, é misturar receitas, é dourar, é estimular, é do outro participar.

solzão aqui dentro, quente coração lá fora.

vou carinhar, a rede, o amigo ao telefone, a semana de um ano inteiro que começa amanhã, vou carinhar, cou caminhar, vou douvidar e na próxima esquina um pouco e tudo vou te dar.