Acima, um
imenso azul profundo e infinito céu. Pedaços brancos em nuvens escolhem seus
lugares. A manta branco-anil cobre uma família de titãs montanhas e suas pelugens
verdes. A cama é uma terra a pulsar
sanguínea e vermelha. Extensa, fértil,
infantil e cúmplice. Corre eufórica na saia das montanhas e as árvores riem.
Eu rasgo os brancos e suas calmas.
Contrasto e defino um azul e preto. As
folhas largam seus brilhos esmeraldas, rastros de um passado traçado. Voo rápido.
Na música da terra. Sou negro e
raio para iluminar. Sou fértil e movimento. Sou ímpeto, sou rabiscos. Sou corvo.
Entre o todo um oásis. Amarelo. Ouro, incandescente, fervente e vivo. Um largo lago
de gotas amarelas. Um destoante vale de seres louros. Um vale de girassóis.
É aqui. Foi sempre aqui. Passo da
corrida para o passo a passo. Da caça dos filhos da terra para o deleite dos sinuosos
e fêmeos caules e folhas. É aqui onde começa e onde termina. Só me cabe aceitar
a fome, o desejo. Cair na incerteza amarela mergulhada na doçura verde sob a
calma azul e seu interno vermelho voraz.
Resta-me libertar sombras sobre o
clarão da flor. Podia continuar. Mas, é simples quando não há possibilidade.
Desço. Rasgo voraz o tecido ar. Solto
rastros negros na tela. O amarelo cresce adiante. Vazo. Entro. Em meio ao
rasante, lascas amarelas passam aos cantos dos olhos. Girassóis esquivam-se
assustados. Gritam, sussurram, praguejam, fofocam. Não ligo. Sei o que quero.
É repente que paro no ar. Imediato.
Vinha reto, paro e pairo. Asas em câmera lenta. Estou diante dele. Meu girassol.
Resta-me libertar sombras sobre o clarão da flor e ver que cor sai.
Meu, pois dele são meus olhos. Meu,
pois da sua luz cunho a imagem. Meu, pois da sua semente faço meu grão. Meu,
pois da minha negritude faço uma vela. Meu, pois da sua ideia, teço um verbo. Meu,
pois o amor é egoísta.
Olhamos um para cada. A volta, os
outros giram e fecham em pétalas dobradas. O meu girassol é contrariante. Alarga. Espalha. Empurra. Arregaça
o ar. Aliás, desdobra.
É aqui, em meio à mancha uniforme
amarela de uma platéia tímida, um girassol de pétalas flores e frutas surge aberto
para um corvo.
E o corvo paira beija-flor. Diante
do seu girassol vivo achado entre estátuas amarelas escandalizadas.
São mil batidas de asas. Mil
pétalas arrepiadas. Girassol a lagrimar poeira ouro. Corvo olhando para o sol
em busca de amarelo menor. São mil silêncios. São mil suspiros.
Eu, corvo, choro. Solto uma pena
negra. Meu girassol sorri. Poleniza nosso impuro ar.
Mas, o sol é vivo. E o vivo se
move. E meu girassol segue a vida. Vira-se para ela. E vira-se de mim.
Palavras. Palavras. Palavras. Faltam
quando o instante é maior em dor e buraco. Meu mínimo seria um guincho
desafinado em plágio never more.
E o tempo nem dá tempo. Disfarçado
de vento arranca o corvo para longe.
O quadro fica na tela. A paisagem
volta em suas cores e seus donos de outrora. Resta uma mudança. Sobre a terra, protegida pela paz
verde, entre os pés amarelos, dormindo sob o azul e respirando vermelha. Resta uma
pena.
Resta uma pena negra manchada de
pólen amarelo.
Agradecimento especial a Filipe
Zau. Gigante angolano de gargalhadas largas.
Ilustração original de Davi Bezerra (muito obrigado primo)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPOHA FICOU MUI SHOW..!! H UUH U... OW VEINHA DE ARTISTA NE???! HEHEHEHE... TA NO SANGUE!!!! BJO TE AMO... ESPERO O PROXIMO PEDIDO DA ILUSTRA!!! :P
ResponderExcluir:D eu te abraço sempre. cúmplice em cores que não vejo, mas sinto.
ResponderExcluirPrimo. Valeu mesmo a sua participação. Vão rolar outras sem dúvida.
ResponderExcluirMannu. Teu sorriso ontem iluminou minha semana. :)
Ainda bem que sentimos, mesmo aà distância, nossa sintonia e cumplicidade.
bj enorrrrme!!!