segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

salivas de eros 1

inicia a fase erótica.


viajei a trabalho. de um dia para outro duas cidades na ponta das asas. a noite do primeiro dia, o descanso, uns chopes e risadas à mesa. na manhã seguinte o trabalho. na noite do mesmo dia o retorno.

eis o palco: o avião.

normalmente duas horas de voo nada trazem de novo. mas o FK 1269 era diferente. a sorte, o acaso, o destino, qual deles me afortunou aquela noite prateada?

cortesias entre tripulantes e transeuntes: - boa noite. - boa.
e uma passarela quase vazia. as luzes suaves do corredor acalmavam o espírito trabalhador. com certeza dormiria o trajeto inteiro. e o melhor, ninguém nas cadeiras ao lado da minha poltrona à janela. quase sem vizinhos, sem crianças chorosas ou companheiros indigestos.

foi perto do horário da saída. pensei: "abriram as janelas da várzea de flores silvestres, ou então descobriram quais essências fazem do meu olfato o mestre dos sentidos e escravizante da serenidade e da razão".

ela sentou ao meu lado. não foi nem na poltrona livre do corredor. foi aqui, perto, próxima das minhas vastas ideias. cavalheiro como sou, assumi a discrição. o máximo possível, julguei.

serena e segura se posicionou. abriu a boca e suspirou soltando os ombros em sinal de relaxo. do sibilo entre lábios um novo perfume. oh mestres da literatura... como escrever ou descrever um sopro, popularmente chamado hálito, capaz de enuviar a solidão? não me atrevo a escrever sobre seus olhos, seus lábios, sua pele. melhor será propor: qual desenho, qual carne, qual seda, para ti leitor, encorporaria o ápice? traga sua musa, pois aquela lá não fotografei e não me atrevo a desenhar visão equivocada.

motores ligados, poltronas em 90º, cintos afivelados, luzes desligadas. adoro a decolagem. amo a pressão do deslocamento. o desafio delirante de toneladas saindo do chão. belo é voar.

os primeiros vinte minutos foram apenas de observações. minto, contemplações. foi então o vigésimo primeiro o rompante. sem traquejos, virou de lado e olhou fixamente para mim. "pausei". sério? - sim sério, diziam os mirantes ao meu lado. aceitei. por momentos, abandonei o inseguro e respondi de movimento bate e pronto. alcei minha mão a sua nuca e convidei. aceito. tão breve quanto ímpar, estávamos a encontros úmidos e quentes nos céus brasileiros.

apenas o início de tamanha audácia. difícil explicar de quem era a dianteira. melhor é entender que nessa dança não houve guia, mas sim aventureiros. na penumbra das poucas luzes sua mão agarrou minha nuca fortemente e eriçou meus cabelos na cobrança que dalí por diante nada seria negado.

tudo rápido demais. tudo muito demais. cada mordida parecia um pedaço a menos de medo. cada toque um pudor jogado pela janela. não demorou e minha mão descobriu pernas sem calcinha. não custou e eu estava com a calça perto dos joelhos.

o tempo caminhava lerdo ante as pulsações e respiros. em contraponto os sons permitidos eram baixos gemidos em nossos ouvidos em pé. então o imaginável, ela e sua saia viraram de costas. mãos seguras apontaram o caminho. e lá estávamos nós entre nós inteiramente livres e unidos até lá dentro. insano? incerto? com certeza.

uma fileira adiante notei outra mulher a-visitando-nos. preocupei. errei. segundos depois a mesma olhante respirava dentro do compasso. uma de suas mãos se ocupava. a vizinha apreciava o show. voyeurismo não sai de moda.

voltando-me a nós dois. agora mais rápido. mais íntimo. mais calor. eu podia jurar que todo o avião mudara de cor. o aroma suado do assento usado fora trocado pela brisa silvestre prórpia dela. nada me existia mais além daquele pequeno espaço. e foi além. pegou minha mão livre e segurou sobre sua boca pressionando  e impedindo os sons delatores. da minha parte mordi meus lábios jubilantes. acredito, até, que bebi meu sangue tamanha a força.

daí aquele sentimento, momento, tão conhecido e indecifrável. indefinível. apenas lembro que no auge, senti que um eram dois juntos. seria possível? sim. fomos os dois juntos simultâneamente.

entre atos desaceleramos, ainda alí atados. olhos fechados e deslocados. um abraço apertado e a mesma mão, outrora convidativa, empurrou-me de volta à janela.  a outra mão dela segurava a explosão entre pernas. olhou-me sorriu e cerrou os olhos em isolada plenitude. não nos tocamos mais.

e foi assim resto da viagem. em recife desci só. para ela minha cidade era escala.

4 comentários:

  1. Acho que o mais insolito e (invejavel) e ser real...

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  2. não mais que uma leitura e sim uma viajem surreal para algo que realmente existiu.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. verdades, ideias, fantasias? onde moram as palavras desse post?

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