sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Dormindo pode, acordado não deveria

À luz da janela.

Foi numa casa de campo. Começou comigo e ELA deitados numa cama conversando amenidades. O quarto era muito vazado de informacões. Havia brechas entre as paredes e janelas com telas difusas. A porta não fechava e balançava suave iluminando feixes brancos no piso mogno.

Eu e ELA a tratar do cotidiano, a trocar ideias. Durante o diálogo uma ruiva caminhava no jardim. A ruiva era um alguém que não podia nos ver. Como a casa fuxicava para fora, só nos restava contar com a sorte e a personalidade dispersa da delatora, que colhia flores silvestres sabe-se lá para quem.

Foi entre uma pergunta e uma resposta. Sutil e naturalmente, entre um rangido e outro da porta, estavamos abraçados em concha. A nuca DELA entrando pelo meu nariz a perfumar. Minhas mãos aceitas. ELA contando não mais futilidades e sim reais interesses. A ruiva encontrava as partes ideais do seu ramalhete colada a janela da cabeceira. Soprávamos palavras baixas e nossa concha estava num rio lento e calmo.

E o pecado de uma ELA comprometida esquentava o ar no entorno.

Luz forte à janela... O quarto iluminando até não deixar espaço nem para uma pequena e indefesa sombra, o êxtase escancarando a porta, ELA embaixo a olhar para mim e dizendo que era mentira, mas era bom, e meus olhos abrindo.

Estava em casa. Na minha cama de casal na sala.

Pois é. Dormindo pode, acordado não deveria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário